COISAS DO DIA A DIA

COISAS DO DIA A DIA

COISAS DO DIA A DIA

Tenho interesse pelas coisas do dia a dia. Adoro fitar um fato inusitado e tentar montar uma história por trás daquilo. Nesses dias presenciei uma senhora segurando um ventilador enquanto usava um tão raro telefone público. Acho que tratava de um assunto com palavras ao vento, ou seja, estava possivelmente jogando conversa fora. Ou será que ela estava ventilando os pensamentos em um papo cabeça?
Mudei de carro mês passado e coloquei um adesivo que já me acompanha nos meus dois últimos veículos antecessores. Um amigo me procura e diz que o colante não combina com o carrão. Não entendeu ele que o dono do adesivo não mudou a ideologia e que ambos, carro e dizer, pertencem a um cidadão com um grito informativo ambulante que retumba mais alto que buzinas.
Voltando de São Paulo pego um uber e o motorista me conta história interessante. Em certo condomínio de classe alta no interior do referido estado os condôminos resolveram impedir os caseiros de transitarem pelas ruas do tão chic local. Isso criou grande polêmica que culminou numa “brilhante” solução final: os trabalhadores do condomínio poderiam até usar as ruas do local, porém com a delimitação de distância referente a um quarteirão em relação às casas nas quais trabalhavam. Um absurdo!!! Mas pior ainda o fato de uma condômina ter sido banida das presenças matinais nas missas do domingo em uma paróquia neste mesmo local, pois a mesma teria cometido “o crime” de levar sua funcionária a uma missa dominical. Casa grande e senzala já não teriam acabado?
Em São Paulo fui para um peça teatral que tratava do racismo. Inicialmente observei o diverso público presente no Ibirapuera. Vi gordos e surdos sorrindo juntos a brancos e negros que se interessavam pelo tema infelizmente ainda tão presente em meu país. Aquelas são pessoas que os outros aceitam porque parece aceitarem a si próprios também. Por trás disso a beleza do amor próprio dividido com o próximo.
Ainda falando de cor uma paciente me pergunta se seu filho nasceu branco. Segundo ela teria tomado muito leite durante a gestação com esse intuito. Frequentemente tenho passado por situações onde fica bem claro que a falta de escolaridade interfere fortemente no padrão cultural de uma nação. Muito embora a cultura represente muito mais que conhecimentos técnicos um povo paga muito caro pela falta de aquisição de saber para encarar as diversas situações do dia a dia. Exploradores yankes certa vez disseram por aqui quase que em tom de gozação: “acham educação cara, então experimentem viver na ignorância”.
Vivemos com pessoas que não conseguem ler as horas e ainda assim são mais pontuais do que outros que usam relógios caríssimos. Parece isso ser o paradoxo que define a força de trabalho de certas pessoas que diariamente dão o seu suor em horas não contadas por suas mentes exploradas por relógios de engrenagens viciadas. Estamos caminhando para uma triste realidade de reforma previdenciária que dizima o descanso de uma vida laboral. Só cegos da alma não conseguem enxergar a maldade cruel de fadar a vida de uma população a uma eterna jornada de trabalho sem descanso. Faz pensar a que viemos ao mundo. Penso, logo existo, mas o descanso fica para os afortunados de capital. Fico feliz por ainda ter tempo para avaliar cenas do dia a dia. Um dia, se me tirarem esse direito, vou pensar em me mudar para Pasárgada.