A DOR DO OUTRO

Não sei bem o porquê de estarmos negligenciando a dor alheia. O abismo social também gerou barreiras psicólogicas que vendam a interpretação da imagem dos aflitos. Passamos pela dor do outro sem nos deixarmos ser tocados. Perdemos a compaixão de certa forma.
“Diga-me com quem tu andas, que te direi quem és”. Tenho uma tese de que somos movidos pelo interesse. É interessante, portanto, manter relações com quem nos faz bem. A teoria da polaridade onde pólos diferentes se atraem só parece fazer sentido em relações de desamor patológico. Recentemente, no entanto, um amigo me ensinou sobre a importância da pluralidade ao escolher grupos de trabalho. Se juntarmos apenas pessoas semelhantes para definir algo nada sai de novo e não se concretiza a música do Raul (“eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter a mesma velha opinião formada sobre tudo”).
Um rapaz se acidentou e seu pai morreu naquela noite. Na manhã seguinte submeteu-se a cirurgia logo antes de ir ao velório. Recebeu anestesia e dormiu profundamente. A sua dor sumiu temporariamente, enquanto todos de fora pensavam, como deve ser doloroso esse momento pra ele. Quando acordou deve ter imaginado que sua perda paterna tivesse sido um sonho de mau gosto. Quisera ele talvez ter machucado um pouco mais o corpo do que a mente. Acho mesmo que se pudesse fazer o tempo voltar talvez pudesse ele abraçar o pai pela última vez. Acabado tudo, desperto por completo, saiu triste para a verdadeira despedida, encarando fatos, com lágrimas represadas por remédio, contidas pela brevidade do descanso forçado no tempo “congelado”. Nesse dia, dividiu sua tristeza com médicos que o curaram apenas parcialmente. Dói a mente que não sente o sabor da alegria de estar junto de quem vai perder um dia.
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