BANCO DE PRAÇA
Aqui no Brasil infelizmente não ando pelas praças. Fico triste por não poder curtir o sol do fim da tarde sentado num banco branco a ouvir os passarinhos se despedirem do dia. Passo pelas calçadas da praça na perspectiva de ter uma rota de fuga melhor, caso seja abordado por delinquentes oportunistas.
Estranhamente consigo me aproximar desse tipo de assento na maternidade na qual trabalho. Certa madrugada fiquei perplexo ao ver uma mãe segurar seu bebê sentada desconfortavelmente em um desses bancos. Achei uma maldade aquela carência de leitos. Se fosse eu, com meu quase incontrolável sono no lugar dela, certamente aquela pequena criaturinha já teria caído dos braços. Coisa linda de ver esse instinto materno, inigualável.
Outra unidade desses bancos guarda um sentido especial na entrada do centro cirúrgico. É nele que as sensações humanas afloram. Se ele pudesse contaria histórias alegres e tristes, mas não faltariam lágrimas. Lá se sentam pais aflitos pela incerteza do resultado do parto de suas esposas, quando estes não estão presentes são as mães das parturientes que realmente confirmam o elo mais forte do amor fraternal.
Carlos Heitor Cony certa vez escreveu a história de um homem que alimentava cães em sua caminhada pela lagoa Rodrigues de Freitas no Rio. A crônica findava dizendo que aqueles cães, não diferentemente de nossos pais, nunca nos abandonam, diferentemente dos amantes. Um preceptor foi trabalhar de ônibus porque emprestou o carro a sua filha. Nesse dia me disse que tem certeza que os pais amam mais aos filhos do que os filhos os amam.
De toda forma apenas entendo a tristeza da solidão de sentar-se sozinho num banco de praça. Este do corredor só me causa maior tristeza quando por ele passo e não tem ninguém pra receber qualquer notícia. Ele fica seco de lágrimas e com a emoção desbotada, sem bundas escondendo o branco encardido que já escutou corações batendo de raiva e angústia, de alívio e de amor. Se eu fosse o paciente a passar por esse vazio acho que cantaria uma música em nova versão: “naquele banco tá faltando ele e a saudade dele está doendo em mim”.