CASOS E CAUSOS

CASOS E CAUSOS

CASOS E CAUSOS
Vindo para o trabalho me deparo com um outdoor onde se encontrava uma propaganda de motel que tentava convencer o uso do estabelecimento para evitar ser assaltado por eventuais firulas sexuais automotivas. Trata-se de propaganda realista com um cartoon de um bandido com a arma na cabeça do condutor que tentava beijar a namorada no seu carro parado na rua. Entristecedor ter que encarar o medo como forma de atrair clientes.
Infelizmente tive que mais uma vez comparecer a um curso de batismo. Cada um tem suas peculiaridades. Esse lecionado por um casal casado há 50 anos. Ela se autodenomina tagarela e assume a fala. Ele confirma a “virtude defeituosa” da esposa com gargalhada. No desenrolar das falatórias aborda-se violência urbana, netos maravilhosos, batismo emergencial (aquele no qual qualquer um pode batizar um moribundo em seu leito de morte) e blá, blá, blá… Nossa, um teste de paciência. De todas essas histórias destaco uma. A de um casal separado que teve a ex-esposa como protagonista de uma tentativa de batismo do seu filho alegando ser o atual namorado o pai da criança. O progenitor verdadeiro chega na hora de molharem a cabeça do filho e tudo vai por água abaixo, literalmente. Naquele dia nada de batismo e prejuízo de uma festa contratada desfeita pela mentira de tentar tornar cristão o fruto de um amor também desfeito.
No trabalho passo a lidar com um funcionário que frequentemente me cumprimenta. Passa por mim e diz meu nome. Depois volta e dá um tapinha nas costas. Mais um pouco e pergunta se vai tudo bem. Essa cordialidade excessiva já está me tirando do sério. Estou apenas respondendo. As vezes passo e baixo a cabeça pra evitar o contato. Estou vivendo o paradoxo de detestar essa cortesia, mesmo sendo eu um ferrenho crítico dos deseducados que não respondem a cumprimentos. Acho que tudo em excesso incomoda. Meu lado mais perverso me diz que alguém está querendo me sacanear.
Como diz um amigo do meu pai, com o leão não se brinca. Esse cara morre de medo da receita federal. Agora é “chegada a hora” anual da declaração de imposto de renda. Começo a juntar papéis. Tarefa difícil essa pra quem dispõe de pouco tempo. Abordo assunto com um colega e ele me fala da restituição que obteve em decorrência dos valores excessivos de suas pensões para os filhos. A conversa vai se prolongando e ele me revela que, apesar de não ser o caso dele, muitos fingem separar-se de suas esposas, e assim o fazem no cartório para dar veracidade ao fictício término do matrimônio, para burlarem a receita com pensões criadas para diminuírem a “mordida do leão”.
Depois de tudo isso posso apenas relatar que sou muito feliz namorando em casa, na segurança do lar, não pretendo batizar mais nenhum filho, e vou ficar levando mordidas de leão, mas cumprimentando honrosamente aqueles que verdadeiramente amo dentro do acolhedor lugar que chamo de lar.