CHORO

CHORO

Uma das músicas mais tristes que conheço diz que tristeza não tem fim, felicidade sim. Apesar de reconhecer o dom artístico de expressar sentimentos sem necessariamente estes serem vivenciados pelo autor, me resta pouca dúvida sobre a tristeza de alguém que se expressou dessa forma no papel.
Nessa semana presenciei um filho indagar seu pai o porquê do seu choro. Ficava difícil para o infante entender que alguém pode chorar de alegria. Na cabeça dele o choro era sinônimo de dor e sofrimento. Em prantos o pai o abraçou e disse estar com lágrimas de felicidade. Esse é o tipo de coisa que adoro presenciar. O pranto passou, as lágrimas caíram, o chão secou e o pequeno saiu dali com uma confusão dessas que os adultos não conseguem explicar direito.
Interessante é se aperceber que a vida realmente é cíclica, que o sorriso acaba, mas também a tristeza, e que os dois se revezam numa dança mental espiritual onde as escolhas se misturam ao acaso. O choro de alegria as vezes é livramento, é sair do buraco, ou mesmo olhar pra cima e ver a luz. A direção do olhar tem nos olhos sua essência, mas não esqueçamos do pescoço.
Fui criado por um super pai, um poço de conselhos com opinões que transbordam do seu ser. Mais ciumento do que minha própria mãe, ele foi por vezes a vacina, a dose do veneno caseiro que nos tornou imunes as substâncias maléficas presentes fora do muro do nosso lar. Por muitas vezes quis ver o pranto do meu “velho”. Gostaria que ele sentisse como eu. Só não entendia que ele era mais experiente, já havia vivenciado muitas coisas e que seus olhos produzem menos lágrimas que os meus. Certa vez voltei do intercâmbio após meses sem vê-lo, não vi uma lágrima no seu rosto, mas seus olhos “marejando” já bastaram para me emocionar.
Ainda era um adulto jovem, saído da adolescência, quando presenciei uma jovem soluçando de chorar sentada em frente a uma loja de peças automotivas. Até hoje carrego o pesar de não ter consolado a desconhecida, pois acho que as vezes até o ombro deconhecido serve de aconchego.
O choro de falsidade me chateia e me constrange, é teatro da alma, inimigo da sinceridade e esconde na lágrima a inveja, o desatino, o interesse e a enganação. Chorem perto de mim por qual seja o motivo, mas que seja de uma alma saculejada de alegria feliz ou de sofrida tristeza.