CURIOSIDADES

CURIOSIDADES

Dizem que “curiosidade mata”, pois tem o potencial de deixar o curioso em situação de risco. Particularmente não acho que é bem por aí. Pra mim trata-se de um despertar, de um desejo de conhecimento sobre algo, fugindo daquilo que eventualmente gerou um ditado popular que deve ter tentado inibir vouyers, paparazzis e “fuxiqueiros” de plantão.
Ultimamente tenho idéias interessantes estimuladas por minha própria curiosidade. Fico imaginando como seria comer uvas de festa, aquelas envoltas por uma cobertura deliciosa de doce, mas sem caroço. Porque ninguém põe isso em prática? Entrei no banheiro do trabalho e senti cheiro de jornal. Posso dizer que quase me desviava do número “um” que fui fazer, e olha que sou amante da duchinha em vez de papel. Fui a um restaurante chinês e percebi que lá só toca música em inglês. Contei tal fato a um amigo frequentador assíduo de lá e o mesmo me disse que nunca notara tal fato.
Curioso mesmo é um vizinha passar o dia olhando as câmeras do prédio. Certa vez comentaram com meus pais que eu chegava muito tarde em casa. Eu não sabia que andavam vigiando meus passos tão de perto. Ao menos o comentário foi positivo: ” como esse menino é trabalhador”.
Quem dera se todas as curiosidades fossem iguais as do meu pequeno filho, que em seus poucos meses de vida observa tudo que se passa ao seu redor. Trata-se de um inocente curioso que tem sim que ser acompanhado para que seu desenvolvimento não o coloque em situações de risco. Nós pais somos munidos de uma ansiosa curiosidade de acompanhá-lo na aquisição de qualquer novidade no fascinante mundo dos bebês.
Um dia quis provar um sabor novo, no outro experimentei um calçado fascinante, certa vez dormi sem cueca, mas só demorou três minutos e voltei vestido pra cama. Enfim, gostaria de novamente reforçar o modelo de tentativa e erro que curiosamente associa-se as nossas experiências na vida. As dúvidas são a essência do conhecimento, uma fonte inesgotável que nos faz investigadores natos, uns mais e outros menos.
Aqui em casa nossa nova funcionária insiste em trocar o lugar do shampoo com o condicionador. Já fui enganado várias vezes. Na hora que eu aperto o reservatório pra sair um vem o outro. O mesmo tem ocorrido entre os travesseiros meu e da minha esposa, por sorte detesto travesseiro e minha mulher sabe direitinho quem foi a culpada, me safando de olhares condenatórios, piadinhas de como faço tudo do meu jeito e ainda da frequente indagação do porquê igualmente a empregada eu não sei qual é qual travesseiro. Na tentativa de obter respostas pra isso apelei até para filosofia. Li um livro interessantíssimo que fala de brasilidades e lá encontrei um relato de que na década de 90 as novelas com temas do campo tomaram conta da TV. Tornou-se chique possuir cavalos e nas mansões cariocas havia um hábito démodé de entortar os quadros na parede para dar uma idéia de que aquele era um lar de um rico desleixado, algo como um poderoso fazendeiro com tanto dinheiro a ponto de não prestar atenção em frivolidades. Enfim, o fato é que as empregadas passavam e endireitavam os quadros, mas suas patroas insistiam em deixá-los caídos para um dos lados, ficava a disputa.
Semana passada parei em um sinal vermelho e avistei na faixa de pedestres do outro lado uma jovem tocando sax para os motoristas provavelmente para angariar algum dinheiro. A pena que ninguém abriu o vidro do carro para ouvi-la. O medo, o receio de interagir ou a indiferença tomaram a curiosidade daqueles motoristas?
Um cego tem curiosidades diferentes daquelas de um surdo, as necessidades são outras também. Já dizia Tales de Mileto que a pior coisa do mundo seria a necessidade. Devemos respeitar a demanda alheia porque cada um tem um próprio caderninho de curiosidades, seja rico ou pobre, gordo ou magro, negro ou branco, homem ou mulher… O bom curioso é aquele que descobre partilhando o bem e os bons sentimentos, e que se acha num caminho de amor e de desejos bons compartilhados.