DESEJO

DESEJO

O sonho é algo que floresce em nossas mentes no momento em que apagamos. Numa vertente positivista atribuiu-se à palavra o sentido de desejo. Como trata-se de algo inconsciente não se deve esquecer, no entanto, que existem sonhos bons e outros ruins. Será que o mesmo poderia ser aplicado aos desejos? Infelizmente penso que sim.

Certa vez ouvi o pensamento de que deve-se ter muito cuidado quando se quer muito algo, pois pode ser que sua prece seja atendida. E o que fazer com aquilo agora?


As crianças desejam brincar, mas se machucam de vez em quando. Os jovens procuram o amor, as vezes achando desilusão. Adultos jovens almejam uma carreira de sucesso, por vezes alcançam uma vida de angústia por falta de identificação com seu trabalho, viram adultos velhos zumbis reféns de um sonho enviesado que tiveram no passado. Os idosos será que sonham ou apenas aprenderam a não esperar pelo futuro? Alguns esperam a morte, pois ficaram confinados numa vida não vivida. Ver meus pais brincando com os netos prova que o presente pode ser muito feliz.
Não se pode desejar pelo outro, pois o significado de tudo é variável em todos. Fico querendo que minha esposa preste atenção naquele trecho do filme, mas ela só queria dar três garfadas seguidas sem olhar pra TV. Sem problema, explico tudo depois.
Tenho medo do desejo imaturo, da vontade desmedida, do poder irracional, de fazer o que quiser, de sonhar acordado com coisas inúteis, enfim, parece que temo a culpa e o remorso que são inimigos dos sonhos sem limites. Desejo os sonhos leves da brisa matinal, da criança que se machucou, do adulto que arriscou mudar, do idoso que não olha pra trás. Quero a vontade do querer e as nuances do prazer, o brilho das estrelas observado por olhos noturnos de quem bebeu o vinho sem esquecer de curtir os lençóis macios que encobrem a pele quente da pessoa amada. Desejo amor sem a cobrança de ser amado. Sonho com uma vida em pensamentos livres das minhas amarras mentais.