PERFUMARIA

PERFUMARIA

 

Cada vez mais tenho usado o termo perfumaria para coisas facilmente dispensáveis. Vivemos no mundo da aparência, do embelezamento social, da necessidade de mostrar ao outro o que as vezes essencialmente não somos. Tenho dificuldade de me perfumar nesse sentido.
Entrei na academia por uma demanda de saúde. O ambiente parece um motel com pessoas vestidas, muitos espelhos, corpos se mostrando neles, músicas excitantes, roupa apertada e muito suor. Alguns desgrudam um pouquinho do celular, mas o carregam pra lá e pra cá, as vezes intercalando esses momentos com um artificial sorriso perfumado capturado por um selfie prestes a ganhar as redes sociais. Trata-se de um daqueles sorrisos congelados fabricados e desfeitos no segundo posterior ao flash, uma dessas falsas mudanças de conformação facial difíceis de encarar, perfumaria barata. Como diz o ditado, “mais falso do que beijo de rapariga”. 
Os perfumes franceses são considerados os melhores do mundo, ao menos na parte do globo em que existo. Na minha ainda pequena vivência mundana soube que eles ganharam essa fama devido ao fato de conseguirem disfarçar os odores de um povo com costume de banhos em quantidade reduzida. Percebam que até em sua criação a perfumaria é resultado da necessidade humana do mascaramento.
Não é que eu seja um revoltado social, nem que não goste de cheirar um doce pescoço feminino, mas tudo aquilo que é colocado acima do essencial essencialmente se transforma em produto de consumo capital para alimentar egos.
Particularmente mantenho lembranças de odores ativadores de lembranças esquecidas com o tempo. Acho isso sensacional, um cheiro ativador de memória.