SENTIMENTOS DE FIM DE ANO

SENTIMENTOS DE FIM DE ANO

Chegou o Natal, sigo eu impressionado com os sorrisos poupados o ano inteiro para as confraternizações que nos engordam no fim de ano. Em novembro presenciei colegas me contando sobre suas “profiláticas” dietas para encarar com voracidade o último mês do ano. Chovem abraços sinceros ou não, presentes secretos para amigos discretos, caixinhas de natal escandalosas, está quebrada a barreira para explorar o próximo em pleno período de doação.
Mesmo assim consegui passar por situação interessante nesse fim de ano. Pedi a um amigo que me trouxesse um sabonete para que eu pudesse continuar em um plantão onde o mesmo ficaria sozinho. Partiria eu para o velho esquema de guerra de me enxugar com um lençol, não tivesse ele também trazido uma toalha para emprestar-me. Acabado o banho com um belo exemplar de sabão extremamente bem odorizado o prometi trazer-lhe outro daquele como forma de retribuir-lhe a doação. Para minha surpresa o amigo disse que não precisava, que ele próprio usaria aquele sabão, que não era provido desse tipo de besteira. Confesso que fiquei tocado com o fato. Parece que com o tempo venho perdendo a capacidade de dividir. A individualidade tem tomado conta da sociedade na qual convivo. Tudo é meu, seu, mas o nosso está ficando esquecido.
Com o passar dos anos tenho trazido pra mim a ideia de que a interpretação dos fatos parece ser mais importante do que o próprio fato. É como se pudesse me afastar um pouco para ver o entorno do ato em observação. Tenho me tornado pouco interessado por notícias que nada acrescentam. Não adianta de tudo saber um pouco se certos tipos de informação nada me agregam. Um amigo se gabava por ter entrado em uma conversa onde usou a informação por ele adquirida a respeito do tamanho do órgão sexual do gorila. Ora bolas, bom pra ele, mas prefiro seguir sem ter esse tipo de conhecimento.
Nessa semana senti uma imperiosa vontade de comer coxinha numa loja de conveniência de um posto de gasolina. Chegando lá pedi também uma água de coco e fiquei a observar um show que passava na tv, a qual estava sem áudio. Solicitei que por gentileza uma funcionária me fizesse o favor de aumentar o volume do som. Tive uma bela surpresa de escutar um música que me remeteu a momentos de um passado feliz. Quem não arrisca não petisca. Maravilhosa a sensação de não ter planos a seguir. O acaso pode ser muito interessante.
Ando em tempo de doação sonífera, mas não mais que minha esposa. A vida nos reserva algumas coisas para as quais não nos preparamos e que são desafiadoras. Tenho extrema facilidade para dormir e não imaginava o quão difícil seria colocar meu filho para dormir estando eu com sono. Remexo pra lá, remexo pra cá, e em alguns desses balanços meu labirinto conversa com meus olhos implorando para que estes se fechem. Certo dia fui surpreendido enquanto ninava meu bebê nos embalos de uma sentada numa bola de pilates, depois disso só o coloco pra dormir andando. Decidi, aliás, secar tal bola. O resultado é muito preditível, mas interessante de ser avaliado. O ar sai até um determinado ponto, onde a mesma fica redonda, mas murcha. Naquele estado não se presta mais pra nada, um corpo inerte sem função, ocupando espaço, esperando ser apertada pra ser guardada, ou cheia novamente para prestar serviço. A diferença dela pra nós é que o sopro do criador só é dado uma vez, uma vez perdido segue um corpo vazio de alma, uma vela apagada sem calor, uma ida sem volta, um caminho desconhecido, a frieza da perda, a dor pra quem ficou e que se pudesse sopraria todo amor que restou pra ser vivido.
Por essas e outras coisas, devemos encontrar o amor fraternal, correr pra perto de quem gostamos, achar nas asperezas da vida o contato que nos empurra pra frente, e quando tudo estiver lisinho deslize sem controle como a diversão de uma criança que brinca numa garagem ensaboada. Faça bolhas, faça graça, sorria. A mente tem seus tapetes sujos, mas as vezes foi sorvete e pipoca que foram pra baixo dele.
Fui presentear um interessante casal de amigos por seu casório e segui com esse desejo escrito: “ O amor está presente nas menores coisas. A força do pilar deve estar na base dele, mas o resto da estrutura não é menos importante. Massageiem suas mentes e a elas ofereçam seu corpos. A vida é mais bonita que a loucura de alguns momentos, lucidez é viver na alegria da felicidade compartilhada”.