TEXTO SEM TÍTULO

TEXTO SEM TÍTULO

Agora decido inciar um texto sem título. Acredito que seja essa a minha tendência na escrita, contar um narrativa e depois nomeá-la, sem me prender a ideias pré-formadas na mente. Quero digitar com a leveza da conexão cerebral enviada para as polpas digitais.
Nesses dias alguém me conta que existem pessoas que vendem lenços e outras que os usam para enxugar lágrimas. Parece que a vida é contada por escolhas fáceis de serem feitas, mas aparentemente não é bem assim. Antes de dormir para uma simples cirurgia a paciente tem um diálogo onde fala de fé e esperança. Pergunto de quem era aquela foto guardada junto com seus exames e ela me responde ser do filho, e que estava ali por um acaso. Iniciado o procedimento descobre-se um organismo habitado por um “epaçoso” câncer que decidiu espalhar-se como se quisesse tomar conta de tudo com a brevidade de alguns meses. Cirurgia suspensa e família convocada, sem palavras divinas, uma fé entrecortada por um fato, um fardo, um tempo circunscrito, uma temporalidade perversa que corrói o corpo e agora a alma. Comentavam os colegas que, apesar do protecionismo familiar, a notícia tinha obrigatoriamente que ser dita a dona do corpo. Não deve ser fácil encarar o fim.
Nesse meio de decobertas inesperadas começam a surgir estórias de conhecidos que partiram súbita e inesperadamente. Em todos os relatos uma única conclusão, a de que a vida é agora. E sempre dois grupos se formam, um dos que gostariam de saber da morte, e outro dos que se pudessem seriam poupados da racionalização de sua desgraça.
Prometi a um grande amigo ateu que antes de ter essa conversa com ele escreveria esse texto. Estou vivendo numa sociedade que descontruiu as relações de causa e efeito para a maior parte das experiências interpessoais. Quanto mais o tempo passa se perpetra a individualização recheada de conceitos vendidos para consumo de massas. De repente todo mundo compra uma ideia que não é sua e passa a viver a idotice da solidão egocêntrica que não contempla solidariedade e socialização. Acima disso Deus e pastores que nada curam, mas tomam dinheiro e deixam um rastro de falsas esperanças. Já até escrevi de que num famoso ditado (a esperança é a última que morre) esse é o último anseio do qual nos desvencilhamos, até porque mortos não mais esperam nada. O fim é o fim.
No hospital no qual trabalho retiraram bolsos das roupas porque os médicos esqueciam coisas de valor e nunca as obtinham de volta depois que que as mesmas eram lavadas. Em outro serviço  uma câmera de segurança é instalada dentro de um vestiário na tentativa de evitar furtos, enterrando a privacidade das pessoas que por lá trocam suas vestes. Numa rua de comércio informal da minha cidade comerciantes votaram nos falsos profetas políticos que prometeram o combate a violência, pois seus receios parecem se restringir ao fato de terem tomados seus apurados no fim do dia, mas não se apreceberam de que sem clientes economicamente ativos nem venda existe. Pornográficos perdem seu tempo em busca de um prazer inexistente, vendido como objetação carnal, esquecendo que o sexo são minutos de um fortuito prazer, o resto são outras experiências de vida.
Seguimos numa sociedade de ególatras idólatras que perdem seu precioso e incerto tempo de vida discutindo besteiras que não trazem sorrisos. Alguns se intitulam seguidores de outras bestas internáuticas. Viver na lama é acreditar em algo maior que si mesmo, é deixar de lado a criatividade, a inventividade, o prazer de sentir-se propriamente seu, dono dos seus pensamentos livres, vivo por entender-se em seus anseios, batalhando por sorrisos em lampejos de felicidade que a vida nos oferta. A depedida do corpo é sentida e por vezes cheia de dor, mas largar a mente antes do corpo é transformar-se em um zumbi que tira falsas fotos próprias tentando enganar outros que não si próprio. Agora é hora de amar, amanhã é coleta de abraços, e depois serão desejos de sorte impulsionados pelo calor de cada amanhecer.