DO VINHO PARA ÁGUA

DO VINHO PARA ÁGUA

O trabalho dignifica o homem, mas não faz dele digno de humanidade. A meritocracia toma conta de desajuizados em meu país. Poucas são as intenções de voto para um possível presidenciável fascista que prega homofobia e matança em série como mecanismo de “limpeza social”, mas é estarrecedor ver seus candidatos a eleitores conversarem todos os dias a respeito de revogação do estatuto do desarmamento, desprezando o abismo social gerador de todas as mazelas de um Brasil entregue ao famigerado e por estes aclamado capital financeiro internacional tão bem representado na bandeira norte americana.
Numa aula de pilates cheguei ao tédio emocional ouvindo três senhoras falarem sobre os mais diversos temas banais existentes no planeta terra. Noutro dia a professora quase me implorou para que eu escrevesse algo a respeito daquilo que por mim era considerado como a “novelização da vida real”. Isso tudo tem me deixado bastante pensativo a respeito do tipo de sociedade no qual me encontro inserido. Logo eu que passei anos afirmando ser este o mundo da informação e tenho que agora concordar com o nefasto Roberto Marinho, fundador falecido da rede Globo, o qual afirmava: “mais importante não é o que divulgo, mas sim o que deixo de noticiar”. Conviver com pessoas que se comportam como gado tangido não pode ser considerado normal por qualquer cabeça pensante com o mínimo de raciocínio crítico. Quando eu era criança e dava em casa uma “desculpa esfarrapada”sobre algum ato do qual tentava desvincular minhas responsabilidades escutava minha mãe furiosamente me indagar: “se alguém mandar você comer merda, você vai comer?” É disso que se trata, humanos com excreções mentais conduzidos num rebanho que escuta o aboio midiático. Onde isso vai chegar?
Nesses dias cometi minha dose de imbecilidade, e não quero com a explicação que darei a seguir me eximir da minha culpa e da responsabilidade sobre os meus atos, mas passo boa parte do tempo escutando das mais diversas pessoas do meu meio social o quanto imbecis são indivíduos que pensam como eu. Dessa vez não aguentei e me intrometi numa conversa onde mais uma vez era eu imbecilizado publicamente por dois cidadãos anônimos. O assunto era política e eu não pude deixar de defender o ex presidente Lula, dessa vez não me contive. Pronto, estava feito o estrago e saio eu xingado de professor universitário comunista que mama nas tetas do governo. Onde já se viu, xingar alguém por ser professor, que sociedade é essa? Fiquei chateado como professor eu fosse, e seria uma enorme honra ser um docente, menos para alguém que não valoriza o ensino, como deve ser aquele embotado cidadão.
Numa loja pedi um orçamento de tintas. Expliquei que gostaria de uma boa, que fosse lavável, pois tinha um filho que era um “capetinha”com enorme capacidade de desenhar paredes. Ao despedir-me do vendedor o mesmo teve que me repreender sobre algo por mim dito que o deixou bastante incomodado. Antes de perguntar o que seria tratei logo de desculpar-me explicando que eu não tinha a menor intenção de ofendê-lo. Confessou-me ele que eu não poderia de forma alguma chamar um filho de capeta. Depois dessa repreensão eu é que indignei-me, prontamente respondendo que amava meu filho e que me dava o direito de assim referir-me a ele simplesmente por não acreditar em Deus, consequentemente não depositando nenhum crédito a figura do capeta. O cidadão ficou chocado com minha resposta e fez de tudo para rapidamente se desvencilhar de mim, mas antes teve que escutar uma lição sobre a individualidade de pensamentos e opiniões.
Mudando de pau para pedra me despeço apenas pra dizer que trabalho profundamente minha mente para que não a tenha aprisionada pelos outros. Serei grato se conseguir manter-me distante das metáforas que a vida possa vir a me apresentar, pois continuo achando que o certo é certo e o errado é errado. Poucas coisas são mais gratificantes que um banho quente no frio ou um banho frio no calor. Nada e nem o mais gostoso dos vinhos me dá sensação mais gostosa que uma saciante água gelada tomada no calor. Enebriadas como estão algumas doentias mentes brasileiras não partirão da água pro vinho, nem do vinho pra água, viverão no lamaçal da sua falta de pensamento em suas vidas vazias que só pensam em desgraça.